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Segundo dados da ABESO (Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e Síndrome Metabólica), 1 a cada 4 adultos é obeso no Brasil. Quando se trata de excesso de peso, o número é ainda mais alarmante, com mais de 60% da população sofrendo desta condição. No mundo, segundo a OMS, estima-se que 1 a cada 8 pessoas sofre de obesidade, o que preocupa órgãos mundiais que estão diante de uma verdadeira epidemia.
Diante desse cenário, a Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica aponta que o Brasil registrou aumento do número de cirurgias bariátricas realizadas pelos planos de saúde e projeta que até 2035 a obesidade deve atingir 41% da população brasileira.
Para falar sobre o tema, a Capellux entrevistou a especialista em Tricologia Bariátrica, Dra. Juliana Franzotti, para esclarecer as principais dúvidas de quem está se preparando para realizar a cirurgia bariátrica ou já passou pelo procedimento e está preocupado com a possível queda de cabelo.
A boa notícia, segundo a especialista, é que a queda de cabelo após a cirurgia bariátrica é uma condição autolimitada – ou seja, com o tempo, o ciclo capilar tende a se normalizar. Confira mais detalhes na entrevista a seguir.
O que você vai encontrar neste artigo:
ToggleDra. Juliana: “É importante entender que a obesidade é uma doença crônica e progressiva que afeta o corpo como um todo, causando inflamação crônica ao longo de muitos anos. Essa inflamação quando mantida é responsável por desencadear várias outras doenças. A obesidade é uma das principais responsáveis pelas doenças crônicas não transmissíveis e, infelizmente, estamos diante de uma verdadeira epidemia.
Muito se falou sobre a pandemia de COVID-19, mas já há muito tempo enfrentamos uma epidemia de obesidade em proporções alarmantes. Projeções indicam que, até 2035, uma em cada cinco pessoas será obesa. Esses dados reforçam a gravidade do problema.
Hoje, a cirurgia bariátrica ainda é o método mais eficaz para ajudar pessoas com obesidade a reduzir o peso e se livrar das comorbidades associadas. No entanto, é fundamental destacar que a cirurgia não cura a obesidade, pois essa condição não tem cura definitiva.”
Dra. Juliana: “A cirurgia bariátrica é atualmente o método mais eficaz para o tratamento da obesidade e suas comorbidades. Embora ainda não exista uma cura definitiva para a obesidade, a cirurgia oferece uma oportunidade significativa para o indivíduo emagrecer e alcançar um peso ideal, saudável e livre de comorbidades.
Esse procedimento promove uma perda de peso contínua ao longo de 12 a 18 meses, período no qual o paciente aprende a adotar uma alimentação equilibrada, deixar o sedentarismo e incorporar a prática de atividades físicas. O mais notável é que todo esse processo ocorre sem a sensação de fome, o que facilita a mudança comportamental.
O impacto da cirurgia bariátrica no organismo é extremamente positivo, reduzindo significativamente o risco de surgimento e agravamento de várias doenças, incluindo as oncológicas. A perda de peso e a eliminação de comorbidades relacionadas à obesidade diminuem os fatores de risco para o desenvolvimento de câncer.
No caso das mulheres, há uma melhora considerável na saúde ginecológica, com efeitos positivos na fertilidade e no controle hormonal, especialmente para aquelas que sofrem de síndrome dos ovários policísticos.
Além disso, a cirurgia bariátrica traz benefícios para a saúde mental, contribuindo para a melhora de quadros de depressão, além de proporcionar alívio para doenças neurológicas, ortopédicas e reumatológicas. O procedimento, portanto, transforma a qualidade de vida do paciente em diversos aspectos, promovendo bem-estar físico e emocional.”
Dra. Juliana: “A queda de cabelo que ocorre no pós-operatório da cirurgia bariátrica é o eflúvio telógeno agudo, ou seja, uma incoordenação no ciclo de crescimento dos cabelos. Sempre que pensamos em queda de cabelo, devemos lembrar que algum gatilho – ou uma combinação deles – ocorreu para gerar essa disfunção no ciclo capilar, resultando na queda dos fios.
No caso da cirurgia bariátrica, existem vários pontos que podem acionar esses gatilhos. Durante o procedimento cirúrgico, há uma manipulação da gordura visceral, o que provoca a liberação de citocinas pró-inflamatórias. Essas substâncias podem afetar diretamente os folículos capilares.
Além disso, o paciente passa por uma dieta extremamente restritiva. Se antes consumia entre 2.000 e 3.000 calorias, essa quantidade é reduzida para muito menos. Sempre que há uma redução tão significativa na ingestão calórica – seja por cirurgia, dieta ou até jejum intermitente – isso pode se tornar um gatilho para a queda de cabelo.
Outro ponto importante é o uso de medicamentos, como anticoagulantes, que são comumente prescritos no pós-operatório e também são conhecidos por induzir a queda capilar podendo contribuir para esse quadro.
Um fator muitas vezes negligenciado é o aspecto emocional. Os pacientes geralmente enfrentam uma carga emocional intensa, com preocupações sobre a cirurgia e o pós-operatório. Os pacientes ficam em um estado de ansiedade e estresse emocional que pode ter um impacto significativo na saúde capilar.
Vale lembrar que a cirurgia bariátrica não é a vilã. Qualquer procedimento cirúrgico – seja uma cirurgia plástica, uma lipoaspiração ou mesmo uma cirurgia ortopédica – pode acionar esses gatilhos. Além disso, outras condições como alterações metabólicas (hipotireoidismo, deficiência de ferro ou vitaminas) ou sobrecarga física e psicológica também podem desencadear o eflúvio telógeno. A queda de cabelo no pós-operatório é uma resposta a múltiplos fatores, e o eflúvio telógeno é uma condição que responde há muitas modalidades de tratamento ou seja, se o corpo não conseguir organizar novamente essa fisiologia do crescimento do cabelo os procedimentos da tricologia clínica conseguem solucionar essa situação.
Dra. Juliana: “Na verdade, não é possível prever com precisão quem terá mais ou menos queda de cabelo. O que sabemos a partir da literatura científica é que, mesmo entre pacientes que utilizam polivitamínicos no pós-operatório, a incidência de queda excessiva de cabelo pode chegar a 56%.O nosso raciocínio é o seguinte: quando o indivíduo já apresenta condições capilares prévias, como disfunções do couro cabeludo: caspa, descamação, coceira, e patologias como : alopecia androgenética, alopecia de padrão feminino, ou histórico de queda excessiva de cabelo, ele tem uma probabilidade maior de experimentar queda após o terceiro ou quarto mês da cirurgia bariátrica. Esses fatores pré-existentes aumentam a vulnerabilidade capilar durante esse período de recuperação.”
Dra. Juliana: “Quando o paciente não apresenta queda de cabelo, histórico de doença capilar ou tratamentos capilares prévios, explicamos que a queda pode ocorrer entre o terceiro e o quarto mês após a cirurgia. Orientamos sobre boas práticas de cuidados capilares, como ter um home care adequado, com atenção à lavagem e aos produtos utilizados. E a orientação principal é que a procura por ajuda especializada ocorra logo após o início da queda de cabelos! Quanto mais precoce for abordagem melhores serão os resultados.
Podemos tratar pacientes com queda capilar antes da cirurgia, para que estejam em melhores condições capilares, o que pode ajudá-los a enfrentar melhor o período de eflúvio.
Se o paciente apresenta distúrbios metabólicos ou deficiências nutricionais, fazemos as correções necessárias antes da cirurgia, o que não só melhora sua saúde geral como também pode beneficiar o cuidado com os cabelos. No entanto, não é possível prever com certeza quem vai ou não sofrer com a queda de cabelo.
Fato que deve ser destacado é que o eflúvio pós-cirúrgico pode agravar a condição capilar pré existente, como ocorre, por exemplo, em mulheres com alopecia de padrão feminino. Nesses casos, o eflúvio pode intensificar o quadro, piorando tanto a alopecia androgenética quanto a alopecia de padrão feminino.”
Dra. Juliana: “A queda de cabelo pós-cirurgia bariátrica, como em todo eflúvio telógeno, costuma começar entre três e quatro meses após a cirurgia. O eflúvio telógeno, em geral, é desencadeado por um gatilho que antecede o início da queda em um período de três a quatro meses.”
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Dra. Juliana: “O paciente bariátrico é mais complexo e requer cuidados específicos. É importante lembrar que, por muitos anos, ele enfrentou uma inflamação crônica. Após a cirurgia e a consequente perda de peso, os níveis hormonais começam a se equilibrar, há redução da glicemia, da resistência insulínica e o metabolismo em geral entra nos eixos. No entanto, é essencial que ele mantenha um acompanhamento contínuo com uma equipe multidisciplinar especializada em cirurgia bariátrica
Para controlar efetivamente a queda de cabelo, é fundamental que o paciente esteja em constante monitoramento com o tricologista em conjunto com o cirurgião bariátrico, nutricionista e psicólogo.
A intervenção ideal ocorre quando há um sinergismo entre o tratamento “in”, que envolve aquilo que ele ingere: alimentos e suplementos orais, ampliando o conceito para reposições intramusculares ou endovenosos, juntos fornecem os substratos energéticos necessários ao folículo piloso, e o tratamento “out”, que abrange as intervenções no couro cabeludo realizadas por tricologistas.
Nesse contexto, as terapias sob o couro cabeludo, como o “drug delivery” com ativos de qualidade e a LEDterapia, são estratégias eficazes. Um protocolo terapêutico robusto inclui a combinação de boas substâncias e técnicas inovadoras, como o laser de baixa intensidade, seguido por um drug delivery eficiente, potencializando os resultados para a saúde capilar.”
Dra. Juliana: “Acho importante deixar essa informação bem precisa. A parte ‘in’ refere-se a tudo que o indivíduo consome, desde alimentos a suplementos, nutracêuticos, polivitamínicos e fitoterápicos .
Isso também inclui reposições intramusculares e endovenosas. Ou seja, a ‘parte in’ engloba tudo que é prescrito pelo nutricionista, cirurgião bariátrico, endocrinologista e pelo tricologista. Cada profissional da equipe multidisciplinar foca em aspectos específicos do tratamento.
Portanto, a ‘parte in’ envolve essa reposição e suplementação, com foco na ingestão de minerais, micronutrientes, ácidos graxos, peptídeos de colágeno, proteínas e outros elementos essenciais para a recuperação e manutenção da saúde.”
Dra. Juliana: “A parte “Out” é, na verdade, a grande cereja do bolo para o tricologista. Quando pensamos em cirurgias bariátricas, nenhum outro profissional da equipe cirúrgica tem a expertise para lidar com essa área, que é essencialmente a tricologia clínica. Por isso, costumo dizer que a “Out” engloba as abordagens que podemos realizar diretamente no couro cabeludo, oferecendo um cuidado especializado que vai além do escopo dos demais profissionais.”
Dra. Juliana: “A associação do Capellux pode ser feita em dois momentos principais.
Hoje, os tratamentos mais eficazes combinam uma abordagem (in) e (out). Na parte out, podemos usar o Capellux — especialmente os capacetes — para potencializar o drug delivery.
A fotobiomodulação tem mostrado resultados promissores, mas, quando usada sozinha, os efeitos podem ser mais lentos. Isso acontece porque ela é dose-dependente. Ou seja, quanto mais ajustada a dose e frequência de uso mais resultado se atinge.
Se o paciente fizer sessões no consultório só uma vez por semana, seja com clusters, capacetes ou outro dispositivo, estará recebendo apenas uma dose semanal de fotobiomodulação. Se o intervalo for maior, o efeito será ainda mais limitado, o que impacta diretamente na eficácia.
Nos atendimentos, começamos com a fotobiomodulação usando o capacete e, em seguida, aplicamos as terapias no couro cabeludo, como drug delivery : MMP ou microagulhamento, intradermoterapia. Os melhores resultados vêm quando associamos esses tratamentos
Dois momentos de uso do capacete:
Início do atendimento: Uso o capacete antes de qualquer terapia — seja exossomo, PDRN, intradermoterapia com vitaminas ou fatores de crescimento.
Uso em casa: O paciente pode potencializar os resultados utilizando o boné ou capacete diariamente, oferecendo uma dose de energia de luz regularmente.
Sobre o boné: Há um conceito de que bonés não funcionam porque não conseguem entregar luz no couro cabeludo — isso é verdade, se o couro cabeludo tiver uma densidade capilar normal. A luz tem que atingir diretamente o couro cabeludo e não os fios. Por isso, oriento os pacientes a expor o couro cabeludo diretamente à luz, especialmente as mulheres, alternando a risca do cabelo.
Para pessoas com mais densidade de cabelo, o capacete é mais indicado. Mas para mulheres com alopecia de padrão feminino ou homens com alopecia androgenética (já com redução significativa de fios e exposição de couro cabeludo), o boné funciona muito bem, sim. Ele é uma oportunidade para potencializar o efeito do tratamento.
Resumindo: Eu utilizo o Capellux durante a consulta, pré drug delivery, e oriento o uso em casa. Se o paciente usar diariamente, mesmo uma dose baixa de joules, ele verá resultados.
Vantagens do Capellux e do boné:
Custo-benefício excelente: O valor pode parecer alto (R$ 1.000 ou R$ 3.000), mas o equipamento dura 5 anos, sendo utilizado quase todos os dias. Isso gera um retorno significativo ao longo do tempo.
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Dra. Juliana: “A pergunta sobre se a mudança capilar é permanente é capciosa. A maioria das pacientes relata que o cabelo nunca mais volta a ser como era antes. Isso não significa que estejam insatisfeitas, mas a mudança é real. Com a diminuição da ingestão proteica e a disabsorção de nutrientes, como ácidos graxos essenciais e minerais, há impacto na fibra capilar.
A literatura científica ainda é muito pobre a respeito do impacto da bariátrica na fibra capilar, contudo a nutrição, aporte proteico e qualidade de vida são fatores-chave para a qualidade do cabelo. O cabelo, como um marcador biológico, reflete o estado do nosso corpo. Se o corpo está saudável, o cabelo acompanha essa saúde. No entanto, alterações hormonais, metabólicas ou até dietas restritivas podem afetar diretamente a textura, espessura e densidade capilar.
Se pensarmos bem, desde o momento em que nascemos, nosso cabelo está em constante transformação. Ele passa por diversas fases, e a cada mudança hormonal significativa — como menarca, climatério e menopausa —, o cabelo também sofre alterações. Essas mudanças podem impactar sua textura, espessura, cor, densidade e até mesmo o comprimento, devido ao encurtamento da fase anágena (de crescimento). O cabelo acompanha o ritmo do nosso corpo porque é um verdadeiro marcador biológico, refletindo nossa saúde interna.
Afirmações absolutas sobre o cabelo nunca voltar ao que era não têm respaldo científico. Cada pessoa reage de maneira diferente. Muitas pacientes se sentem satisfeitas com o resultado pós-cirurgia bariátrica, apesar de reconhecerem que o cabelo mudou. A cirurgia oferece benefícios como redução de índice glicêmico, controle de cortisol e melhora na resistência insulínica, o que impacta positivamente o couro cabeludo.
Estamos em constante transformação, e com o tempo e cuidados, muitas pacientes recuperam uma boa qualidade capilar.